domingo, 28 de junho de 2009
Cantos de Miséria
Desespero-me a pintar flores
Enquanto contemplo minha miséria
Cubro de negro véu minhas dores
Ri a loucura sob minha face séria
Silêncio:
Almas estão sendo ceifadas
Para que outras,
Em fino vinho sangue,
Sejam perdoadas
Não mais tenho o que pensar
Não mais tenho o que temer
O que posso pagar,
Por estar cansada de tremer?
Onde estão os outros,
Para onde haveriam de ir?
Será que caíram mortos,
Ou se cansaram de aplaudir?
A dor alheia,
Das janelas do mausoléu,
É uma diversão verdadeira
Em ossos alheios esculpir troféu
Desfilam os colossos
Em palcos de vísceras
E ganem o ratos nos foços
E no inferno, almas míseras
Em baixo tom confesso
Derramando sangue,
Por falta de lágrimas, verso:
"Cantos de miséria
choram retalhos de memória
Miúdos calados de alma,
contam minha história"
Desejo eu o pecado da carne
E também a ressurreição
Entregaria-me ao escarne
Se fosse por um pouco de compaixão
Desejo estar morta,
Ao passo que choro meu cadáver
Lamenta minha pele torta
Nunca ter podido viver
Demônios à noite,
Vêm-me falar
Já que os vivos ao açoite,
Fazem-me calar
Deixo minha alma de presente
Para quem, dela, quiser abusar
Despeço-me solenemente
E continuo a versar:
"Cantos de miséria
choram retalhos de memória
Miúdos calados de alma,
contam minha história"
Fecho meus olhos,
Enquanto as trevas não me vêm levar
Abrem-se meus lábios velhos
Enquanto sentem a morte entrar
Cessam as estrelas no céu
E os cortes entalhados
Cala-se a música do mausoléu
E nos meus lábios, os sorrisos forçados
Não mais preciso fingir
Para viver uma mentira
Não mais preciso sorrir
E esconder do mundo minha ira
Qual é o prêmio que levaremos
Por viver uma vida que não vive
Por que nos calaremos
Diante à sina de sermos livres?
Para mim não faz diferença
Ignorar ou simplesmente calar
Em mim, morreu minha crença
Pois meu anjo não mais me vem cantar:
"Cantos de miséria
choram retalhos de memória
Miúdos calados de alma
contam minha história"
Assim como contam
Meus restos espalhados
Assim como montam
Meus pedaços deixados
Minha trilha,
Minha vida na escória
Minha ira,
Minha inútil glória
sábado, 27 de junho de 2009
Chora Menina
Chora menina,
chora no seu quarto escuro
Entre a angústia que aperta
e a morte que é certa
Nada é a escuridão
para quem é filho da solidão
Chora menina,
chora no seu quarto escuro
O que temer desse mistério,
confinada em um cemitério
Se apenas os mortos a ouvem chorar
e Deus não te ouve orar?
Chora menina,
chora no seu quarto escuro
De nada nos adianta odiar
quando já nos foram matar
Assim que inútil é gritar,
a saída é escondida chorar
Chora menina,
chora no seu quarto escuro
Espere que um dia hão de se compadecer
aqueles que tu deixas te bater
Espere que olhe a um oprimido
outros olhos refletindo caráter destruído
Chora menina,
chora no seu quarto escuro
Permita-me ceder meu lenço,
pois lágrimas, há muito, dispenso
Não faço da vergonha meu véu
nem da minha dor, alheio troféu
Chora menina,
chora no seu quarto escuro
Chora a inocência perdida,
chora sua alma vendida
Chora a dádiva jamais concebida
pois o amor na sua vida é chaga proibida
Chora menina,
chora no seu quarto escuro
Caia a lágrima que dignifica
derrame o sangue que purifica
Feche os olhos, entregue-se boa irmã
Alegre-se no inferno, princesa de Satã
Chora menina,
chora no seu quarto escuro
Mas antes de se afogar em sua sangria,
antes de apodrecer sua carne doentia
Peço que não tente por mim chorar
a beleza que a vida me foi roubar
Chora menina,
chora no seu quarto escuro
Até que um dia ouçam seu sussurro
nunca irá querer ver seu futuro
Antes seu rosto esconder
do que no inferno da consciência arder
Chora menina,
se ainda te restam lágrimas para chorar
Se ainda há algum dejeto a derramar
se ainda há sangue para jorrar
Há uma alma para trocar,
se ainda espera se salvar...
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